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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

HORRORES ESQUECIDOS DA NOSSA HISTÓRIA: O TERROR PEDRISTA (1834-1836)

Foto de Nova Portugalidade.

A História faz-se com documentos e não com emoções. Quaisquer estudos que ambicionem receber chancela da autenticação científica requerem, pois, validação pela comprovação de provas documentais. Tudo o mais, ou é subjectividade do historiador, exercício literário e efabulação, ou mera propaganda. 

Vem esta breve adv
ertência a propósito de um dos períodos mais sinistros da história portuguesa, momento em que os portugueses se enfrentaram e mataram, famílias se cindiram, vizinhos perseguiram aqueles com quem haviam partilhado durante gerações as mesmas preocupações e alegrias que fazem a vida das comunidades.

Entre 1820 e finais da década de 1830, Portugal viu-se arrastado para o torvelhinho das lutas civis, e desse período negro resultaram perdas humanas, sociais, políticas e culturais de que o país não mais recuperou.

Lê-se e fala-se amiúde da brutalidade do miguelismo, das célebres esperas e desmandos dos trauliteiros miguelistas, mas raramente se aborda a violência daqueles que empunhavam a bandeira do liberalismo. Já Oliveira Martins, absolutamente insuspeito de qualquer simpatia pela causa miguelista, aludia no seu Portugal Contemporâneo a este encobrimento: “quanto a crimes, o terror anárquico de 1834-1838 pagou com uma dezena de assassinatos cada assassinato miguelista”, e Marino Miguel Franzini, deputado da primeira câmara liberal após a vitória de D. Pedro de Bragança dava conta de três mil e quinhentos crimes de sangue perpetrados contra antigos miguelistas nos meses que se seguiram à Convenção de Évora-Monte. Liberais honestos, inquietos com a expansão das arbitrariedades e violências que então se produziam um pouco por toda a geografia portuguesa, não deixavam de alertar as autoridades para o inqualificável nível das represálias em curso.

Em 1836, Passos Manuel, informava a câmara de deputados da enormidade das malfeitorias: “das participações e relações das autoridades de todo o país consta que, até hoje, se têm cometido dezasseis mil assassínios”. Ou seja, dos três mil mortos indicados por Franzini em 1835, o número de vítimas mortais resultantes do esmagamento dos seguidores de Dom Miguel havia passado para o assustador número de dezasseis mil. Não houve, pois, apaziguamento, clemência e reconciliação.

A violência prolongou-se perante a indiferença das autoridades. “Só no dia em que veio para S. Vicente o cadáver de D. Pedro, foram sacrificados catorze miguelistas”, anotava José da Gama e Castro no seu Diário, para logo oferecer outros exemplos terríveis: “um boticário da Casa Real foi martirizado durante um dia inteiro; primeiro cortaram-lhe uma orelha, depois a outra, arrancaram-lhe os olhos, cortaram-lhe os dedos e por fim esquartejaram-no”. Nada disto nos espanta, lembrando que no dia seguinte à entrada das forças liberais em Lisboa, setenta militares pertencentes às tropas miguelistas foram afogados no Tejo, enquanto outros cem trancados e queimados vivos no Quartel do Beato. Na província, as represálias atingiram excessos inauditos: "um certo D. Manuel, [mercenário] espanhol [ao serviço de D. Pedro], armou uma quadrilha com que veio assaltar Tomar na noite de 25 para 26 [de Junho], soltou os presos, roubou e prendeu o Juiz de Fora, proclamou o governo revolucionário e matou cruelmente o escrivão da Correição, cortando-lhe os dedos antes de lhe tirar a vida" (Visconde de Santarém, Correspondência. Lisboa: Alves Mota, 1918).

Tais desmandos, acompanhados por pilhagem generalizada de propriedades, seguidos de expropriação de bens dos vencidos, provocaram uma imensa onda de emigrados. Saíram do Reino milhares de pessoas na maior penúria, entre as quais se encontravam nobres, militares, funcionários, eclesiásticos, comerciantes e simples populares aterrorizados pela espiral de violência.

MCB


Bibliografia por ordem de ocorrência no texto:

J. P. Oliveira Martins, Portugal Contemporâneo, vol. 1. Lisboa:Guimarães Editores, 1986

Para os discursos de Miguel Franzini e Passos Manuel, vide Diário da Câmara dos Deputados. Lisboa : Imprensa Nacional, 1835-1910.

José da Gama e Castro ; prefácio Alfredo Serrão. Diário da emigração para Itália. Lisboa : Tip. H. Torres, 1933.

Visconde de Santarém, Correspondência. Lisboa: Alves Mota, 1918

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